quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

AS INFLUÊNCIAS FRANCESAS DO PINTOR ALBERTO VALENÇA


Salvador, 22 de julho de 1996

"Ne touchez pas. Ne touchez pas soneieur." Assim ele começava a recontar o fato de estar pintando ao ar livre e um velho mestre francês, cujo nome não recordo, olhando para a tela ter dito: não toque mais senhor. Era a lição para seus alunos captarem  que o pintor deve saber quando o quadro está pronto, quando não deve ser dada mais nenhuma pincelada, sob pena de estragar o trabalho. Ou então sempre dizia: "Lé necret de la peinture, ce la lumiere", e na prática durante as aulas de "Desenho de Modelo Vivo," insistia para os alunos desenharem (o que servia também para quando fossem pintar) com os olhos semi-cerrados. Isto era para captarem melhor as "manchas," o claro-escuro, ficando a obra sem muita definição, procedimento este herdado dos impressionistas.
Estas e outras contava didaticamente o Prof. Alberto Valença, cuja estadia na França onde estudou em Paris, como aluno da Academia Julian, muito marcaram a sua formação de pnitor.
Ele absorveu não só os ensinamentos teóricos, como também os artesanais que os franceses chamavam "La cuiaine," isto é, a mistura e preparo das tintas, dos óleos, aplicação de vernizes, o uso de carvão, os chassis, as telas, os pincéis, os apetrechos e ferramentas etc., resultando em um aprendizado muito bom do seu ofício. E estes ensinamentos, teóricos e práticos, é que ele procurava com todo o empenho transmitir aos seus alunos.
Prof. Valença era um homem muito sensível e se emocionava facilmente, indo constantemente às lágrimas. Costumava sempre dizer: "Eu sou sincero', e realmente não mentia. Com estas palavras ele se referia a arte moderna querendo justificar a sua não adesão devido a não acreditar nela. Isto ocorria na década de 50, quando fui seu aluno, e a arte moderna em Salvador já tinha dado os primeiros passos no rumo de sua definitiva implantação. E a Escola de Belas Artes, cujos padrões de ensino eram regidos pelos canones acadêmicos vindos da Ecole de Beax Arts de Paris e as nossas oriundas da Missão Francesa, foi o último baluarte a cair. E o Prof. Valença, ao lado da quase maioria dos professores da Escola de Belas Artes, manteve-se fiel ao seu pensamento e aprendizado, não tomando conhecimento das linguagens da arte moderna que já existia antes deles estudarem na Europa.
Porém, não só ele, mas Presciliano Silva e Mendonça Filho, professores com a mesma formação e com estudos na Europa, mais ou menos na mesma época, mesmo tendo adotado uma linguagem ultrapassada, foram tão bons artistas, dentro do que se propuseram a realizar, como excelentes professores.
Posso afirmar que Valença era um homem bondoso e muito rigoroso quanto as suas convicções. Dos três gêneros da pintura mais em voga na época ele foi um mestre do retrato, da paisagem e das marinhas.
Para  nosso reconhecimento e deleite, seus quadros podem ser vistos em vários museus, principalmente os de Salvador e em coleções particulares.
Lembro sempre com carinho e saudades o meu velho mestre que, ao lado de todos os outros meus professores da Escola de Belas Artes, deixou ensinamentos muito úteis para o meu aprendizado.

Sante Scaldaferri

Escola de Belas Artes de Paris (vista antiga)

Academia Julian

Escola de Belas artes de Paris (vista moderna)

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